Um casarão com os dias contados em nome do progresso.


Até meados dos anos 1960, o bairro do Cabula, em Salvador, conservava um aspecto bucólico e rural, onde o grande destaque eram as chácaras e os sítios com suas plantações de laranja. Nessas propriedades, podia-se ver belíssimos casarões em estilo eclético, boa parte construída no início do século XX.

As laranjas do Cabula chegaram a ganhar fama, que durou até a chegada de uma praga que contaminou os laranjais e iniciou um processo de decadência dessas chácaras que se acentuou apartir do início dos anos 1970. O que se viu foi um grande processo de transformação urbana no bairro do Cabula. As chácaras e os sítios foram dando lugar aos conjuntos habitacionais e o asfalto foi tomando conta das estradas de terra. Alguns casarões antigos ainda resistiram ao avanço imobiliário, mas não por muito tempo. Hoje restam pouquíssimos exemplares.

Um deles é esta casa, totalmenete degradada e descaracterizada, localizada na rua Christiano Buys, mais conhecida como a antiga ladeira do Cabula. O imóvel pertenceu ao empresário Euvaldo Carvalho Luz, fundador do Shopping Barra, falecido em 2009. Acredito que ele herdou a casa de seus familiares.

A casa, em estilo eclético, foi provavelmente construída entre 1900 e 1915, quando o ecletismo arquitetônico ainda estava em voga, dividindo com o art nouveu, a preferência da elite da época nas construções das suas residências. No caso desta casa, construída numa época em que o Cabula era uma região rural de Salvador, certamente serviu de casa de veraneio e repouso nos finais de semana.


Hoje esta casa em nada lembra o seu passado de requinte. Está muito mal conservada, decadente e descaracterizada. A porta e a janela da fachada não são originais, o mesmo acontecendo com as janelas na lateral do imóvel. Segundo um zelador que toma conta da casa, ela tinha na sua fachada, duas janelas e uma porta no meio.
Se já não bastasse o seu estado tão degradado, a casa está com os seus dias contados. As obras da via portuária que irão proporcionar grandes transformações no sistema viário de Salvador, passarão no local onde está a casa e ela "sumirá do mapa", assim como os outros casarões do outrora bucólico Cabula antigo.

Comentários

  1. É assim, Sydnei. Lá se vão nossas casas, nossos caminhos e linha de bonde, nossas lembranças.

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  2. É mesmo uma pena...

    Valeu pela aula de história.

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  3. Nasci no Bairro do Cabula! era a coisa mais linda! Vocês não tem idéia de lindo que era, por ser um bairro alto, era super fresco, e arborizado, tinha árvores enormes, gigantescas mesmo, lembro que havia uma igreja antiga estilo colonial onde hoje está o posto de gasolina logo na subida da ladeira, fizeram uma nova redonda e puseram Nsra do Resgate lá, havia uma linda vila de casas na entrada do pernanbués e outra em frente a atual telemar, onde também havia uma chácara com uma bela casa em Art Noveau onde funcionou a escola Papitoco e hoje é a Igreja dos Mormons, outros casarões ficavam atrás da escola Senhora Santana, e chácara 165 onde hoje está a Insinuante, todas foram demolidas, nada restou,, apenas uma ou outra casa na entrada dos Pernambués, onde hoje é o resgate havia um caminho de laranjeiras lindo do dois lados, chamava-se Beco do São Francilino.

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    1. Oi, Paulo!
      Tudo bem?
      Você sabe dizer algo a respeito da chácara que fica ao lado da Vivo (atual atento), fica mais próximo da loja Casas Bahia.
      Qualquer informação será valiosa.
      Estou escrevendo um artigo sobre o bairro e identificando os ultimos exemplares dessa arquitetura e ngm sabe informar nada da casa.

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    2. Olá Manuela eu creio que esteja falando da antiga Chacara Santa Terezinha antiga produtora de Laranjas do Beco do Francilino hoje Resgate, acredito que neste site que vou te mandar o link vc deve encontrar o que procura. http://www.etbces.net.br/images/etbces/anais/2016/04_poster_gt_inovacao-rosali.pdf

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    3. Gostei do link que você postou, Casa Feliz, me interessou também, já que moro na região do Cabula desde 1972. Morei no Conjunto Planalto entre 1972 e 1978. Depois fui morar no então Beiru (hoje Tancredo Neves) onde estou até hoje. Alcancei um casarão do século 19 que ficava ali ao lado onde hoje é livraria Doce Livro, na Av. Silveira Martins, que era a residência da família de Dona Jesus. O casarão foi demolido e fizeram no lugar um condomínio de duas torres. Estudei na Escola Senhora Santana, entre 1973 e 1981. Bons tempos.

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