25 anos de "Ten"
Até 1990, o movimento musical que vinha de Seattle e trazia um novo
sopro de vida ao rock norte-americano já era uma realidade nos Estados Unidos.
No entanto, para o resto do mundo, ou pelo menos para o grande público, o
grunge era um completo desconhecido. Aqui no Brasil, me lembro que a revista
“Bizz” fez uma série de matérias por volta de 1990 sinalizando que alguma coisa
pesada e barulhenta estava acontecendo com o rock da terra do “Tio Sam”. O
grunge só ganharia a visibilidade internacional a partir de 1991, e causaria um
“terremoto” de grandes proporções no rock mundial só comparável ao impacto do movimento
punk nos anos 1970. E um dos responsáveis por esse “abalo sísmico” roqueiro de
proporções mundiais foi Ten, o primeiro álbum da carreira da
banda Pearl Jam, um dos ícones do “som de Seattle”, como também é chamado o
grunge.
O Pearl Jam surgiu dos cacos da banda de heavy metal Mother
Love Bone, que chegou ao fim em 1990 com a morte do seu vocalista, Andrew Wood,
vítima de overdose de heroína. Dois ex-integrantes, o guitarrista Stone Gossard
e o baixista Jeff Ament, começaram a desenvolver com o guitarrista Mike
McCready, um trabalho musical novo e pesado. Uma fita que gravaram caiu nas
mãos de um surfista via Jack Irons, ex-baterista do Red Hot Chili Peppers que
havia recusado o convite pra entrar na banda. O tal surfista ouviu a fita, que
só tinha músicas instrumentais, e escreveu algumas letras. Gravou os vocais com
as letras que escreveu para as músicas da fita e enviou para Ament e Gossard
que gostaram e o convidaram para ser o vocalista. O tal surfista era Eddie
Vedder.
Mother Love Bone, de onde saíram Stone Gossard (primeiro à esquerda) e Jeff Ament (último à direita) para formar o Pearl Jam. |
Com a entrada de Dave Krusen para a bateria, a banda se
completou e foi batizada de Mookie Blaylock, e em pouco tempo, já estavam
assinando contrato com a Epic Records no final de 1990. Mas o nome Mookie
Blaylock foi logo trocado por Pearl Jam, sugestão de Eddie Vedder cuja bisavó
era chamada “Pearl Jam” (“geleia de pérola”).
Entre março e abril de 1991, o Pearl Jam gravou o seu
primeiro álbum, tendo Rick Parashar na produção. Boa parte do disco foi baseada
no material que havia sido gravado nas fitas “demo” e as letras escritas por
Eddie Vedder.
Intitulado Ten, o álbum de estreia do Pearl Jam
chegava às lojas em 27 de agosto de 1991. O estouro da faixa “Alive” nas rádios
e o vídeo clipe sendo bem executado na MTV norte-americana, alavancaram as lentas vendas
inicias de Ten. O álbum acabou entrando no Top 10 da Billboard 200. As
críticas a Ten foram de uma certa maneira equilibradas. Parte da imprensa
musical teceu elogios ao álbum, enquanto outra não poupou duras críticas. Aqui no Brasil, a “Bizz” se
mostrou um tanto quanto “morna” ao primeiro trabalho do Pearl Jam.
Pearl Jam |
Ainda no campo da crítica, irônico foram as críticas
raivosas do ninguém menos que o “band leader” do Nirvana, Kurt Cobain, a Ten,
afirmando que o Pearl Jam era “vendido” e “oportunista”. Talvez ele estivesse se referindo ao fato do
Pearl Jam ter assinado com uma grande gravadora como a Epic Records, e não com
uma gravadora como a Sub Pop, selo de Seattle que foi o “celeiro” das bandas
grunges, o que eu acho uma tremenda besteira por parte de Cobain. O Alice in
Chains, outro ícone do grunge de Seattle, havia lançado o seu primeiro álbum, Facelift,
por uma grande gravadora, a Columbia, um ano antes do Pearl Jam, vendendo mais
de 2 milhões de cópias.
A ironia é saber que o Nirvana do Cobain, que surgiu da
cena alternativa, acabou devorado pelo “sistema” com o sucesso planetário de Nevermind
no maintream. Tanta exposição fez Cobain não segurar a onda, e já sendo um cara
com tantos problemas e “demônios” internos, acabou metendo uma bala na cabeça
em 1994, pondo fim à própria vida, ao Nirvana e à Era Grunge. O Pearl Jam
seguiu em frente, e sobreviveu a tudo isso com dignidade.
Os temas abordados nas canções de Ten são densos e até
sombrios em algumas faixas. Vão desde suicídio (“Jeremy”), solidão (“Porch”),
mendicância ("Even Flow") até temas mais amenos (“Oceans”). “Alive” é
praticamente uma autobiografia de Eddie Vedder que fala de um garoto que
descobre que seu pai é na verdade seu padrasto.
Eddie Vedder |
Musicalmente, Ten apresenta uma bem dosada mistura
de referências do hard rock clássico dos anos 1970 com a fúria selvagem do
indie rock, guitarras pesadas e uma certa levada dançante marcada pelo baixo e
bateria, remetendo ao funk metal que estava em voga na época através de bandas
como Red Hot Chili Peppers, Faith No More, Living Colour entre outras. A pegada
de rock clássico das guitarras do Pearl Jam era o que o diferenciava das outras
bandas da explosão grunge. É possível perceber “ecos” de Jimi Hendrix por quase
todo o álbum nos solos executados por Mike McCready, principalmente em “Why Go”(uma
das minha preferidas do disco) na qual os efeitos de pedais wah-wah parecem
fazer a guitarra “derreter”. Além disso, tem a voz rasgada de Eddie Vedder que nos palcos se agiganta com a sua presença carismática. Essas qualidades acabaram fazendo o Pearl Jam uma
perfeita banda para grandes estádios e arenas.
“Alive”, “Jeremy”, “Even Flow” e “Black” foram os grande
hits de Ten. O vídeo clipe de “Alive” foi indicado para o MTV Video
Music Awards na categoria “Melhor Video Alternativo”, em 1992. “Jeremy” teve o seu vídeo
clipe premiado na edição de 1993 do MTV Video Music Awards em quatro
categorias.
Em mais de 20 anos de lançado, estima-se que Ten
já tenha vendido mais de 13 milhões de cópias.
Nevermind, segundo disco da carreira do Nirvana, pode até ser o
mais importante álbum do grunge, mas sem sombra de dúvidas, o melhor álbum de
estreia de uma banda grunge é de longe, Ten. Nenhuma banda da onda grunge
estreou também em disco como o Pearl Jam com Ten. De qualquer forma,
ambos os álbuns, juntamente com Badmotorfinger, do Soundgarden,
ajudaram naquele segundo semestre de 1991, a disseminar o som grunge em escala
planetária e a modificar a trajetória do rock.
"Alive"
"Jeremy"
"Even Flow"
"Black"
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